Sempre se reconheceu o papel fundamental da memória na civilizaçáo ocidental pré-moderna, num mundo de tão poucos livros. Entretanto nunca se deu atenção suficiente ao que se pensava que a memória fosse, à sua pedagogia, e a como e por que era treinada. A memória, além de ser a parte mais importante da retórica, era também parte integrante da virtude da prudência, que possibilita o juízo moral. Treinar a memória era muito mais do que fornecer a si mesmo os meios para falar e escrever quando os livros nâo estavam à mão: era na memória treinada que se construía o caráter, a cidadania e a piedade. Não era apenas uma escolha ditada pela conveniência; tratava-se de uma questão de ética.
Neste clássico estudo, a pesquisadora Mary Carruthers esclarece como a psicologia antiga e medieval compreendia a natureza da memória — sua relação intermediária entre a informaçáo sensorial e a abstração intelectual — servindo-se de suas duas principais metáforas: como uma tabuleta de cera, sobre a qual se pode escrever, ou como um depósito ou um armazém, um tesouro, uma arca. Ela assinala a sua identificação com o hábito no campo da ética, e descreve as diversas técnicas para se obter uma memória treinada e construir a própria “biblioteca”, de tal modo que o leitor pode aproveitar este livro tanto como uma história dessas práticas na pedagogia medieval, que deixa transparecer seu valor psicológico e social, bem como um guia prático, que o oriente, com base nos mestres antigos, a edificar seu próprio tesouro.
Sobre o autor
Mary Carruthers (1941–) formou-se no Wellesley College (BA) em 1961, e na Yale University (Ph.D.) em 1965. Já lecionou na Universidade de Illinois, na Universidade Estadual de Ohio e na Universidade da Califórnia em Santa Bárbara. Atualmente é professora Remarque emérita de Literatura na Universidade de Nova York, e membro do All Souls College de Oxford. É autora, entre outros trabalhos, de The Craft of Thought: Meditation, Rhetoric, and the Making of Images, 400–1200 (1998) e co-editora da coletânea de textos medievais The Medieval Craft of Memory: An Anthology of Texts and Pictures (2002), que, com este O livro da memória, compõem uma trilogia sobre o tema da memória na Idade Média. Escreveu também Rhetoric Beyond Words: Delight and persuasion in the arts of the Middle Ages (2010) e The Experience of Beauty in the Middle Ages (2013).
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