A sabedoria, para Vives, não é apenas intelectual, uma perfeição da inteligência que capta e contempla a verdade, ainda que se trate de verdades últimas e muito elevadas. Ela é, como dizia Platão, uma verdade obedecida, que se reflete em virtude moral, em perfeição no agir e no portar-se. É um ideal de vida humana, que honra e completa a sua natureza. Por isso, na Introdução à sabedoria está dito não somente o que se deve conhecer, mas também tudo o que se deve fazer para ser sábio: há também as virtudes humanas, pessoais e sociais — que, segundo o grande humanista espanhol, “adaptam nossa vida às exigências da sabedoria”. E Vives, que dedicou a vida à busca da sabedoria e ao seu ensino, como preceptor e conselheiro, fala-nos por meio deste texto muito diretamente, como se falasse ao ouvido de seus alunos. Aqui, o leitor de todas as épocas encontra prescrições que parecem vir como que diretamente da fonte cristalina da sabedoria — conselhos úteis e diretos capazes de ordenar nossa vida tendo a sabedoria como fim, e que formam, muito facilmente, uma verdadeira regra de vida para o intelectual cristão, especialmente em tempos de crise histórica.
Sobre o autor
Juan Luis Vives nasceu em 1492, em Valência, na Espanha, numa família de judeus convertidos. Quando jovem, transferiu-se para Paris, onde alinhou-se à nova corrente dos humanistas, que rejeitavam as disputas escolásticas, já decadentes e eivadas do nominalismo, e buscavam uma sabedoria e uma piedade cristã mais vivas e verdadeiras. Transferiu-se depois para Lovaina, onde travou contato com outras figuras relevantes da época, como o mestre Erasmo de Roterdã e São Thomas More. Em meio ao clima caótico e incerto do século xvi e às muitas penúrias e dificuldades que viveu pessoalmente, Vives compôs uma obra extensa e variada, da qual destacam-se, além da Introdução à sabedoria, seu comentário à Cidade de Deus de Santo Agostinho — trabalho encomendado por Erasmo —, os Colóquios para o aprendizado de latim e a enciclopédia pedagógica De disciplinis. Considerado entre os maiores intelectuais do Renascimento, faleceu em Bruges em 1540, aos 43 anos de idade.
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