Como alguém se torna filósofo? É uma pergunta interessante, que não admite resposta única. Basta percorrer a honorável tradição filosófica da antiguidade aos nossos dias, para se dar conta de que todo o grande filósofo tem um jeito próprio de pensar e trata a filosofia de maneira original e inconfundível. Para Anthony Ashley Cooper, terceiro conde de Shaftesbury (1671-1713), tornar-se filósofo é descobrir-se como membro de uma espécie, a humana, cidadão de um país, a Inglaterra, herdeiro de uma tradição, a do estoicismo, que se enraíza na Grécia antiga. É o que transparece na obra que o tornou famoso, as Características, publicadas em 1771 e lidas em toda a Europa. Para Shaftesbury, a filosofia, por estar enraizada no que é propriamente humano, ou melhor, no que torna o homem membro de uma ordem natural maior do que ele mesmo, não é algo que se descubra fortuitamente. É resultado de um exercício de disciplina das paixões, de modulação dos sentimentos, de ajuste do corpo aos ditames da razão. Exercício que se realiza na linguagem através da qual o pensamento adquire vida e se torna formador. Estes Exercícios, escritos em prosa límpida, são o testemunho de como o próprio Shaftesbury veio a se tornar filósofo – um dos grandes de sua época, pronto para ser redescoberto pela nossa como um verdadeiro clássico.
Sobre o autor
Anthony Ashley Cooper, 1º conde de Shaftesbury (nascido em 22 de julho de 1621, Wimborne St. Giles, Dorset, Inglaterra – falecido em 21 de janeiro de 1683, Amsterdã, Holanda) foi um político inglês, membro do Conselho de Estado (1653-1654; 1659) durante a Comunidade e membro da“Cabinet Council” de Charles II e lorde chanceler (1672–73). Buscando excluir o duque católico romano de York (o futuro James II) da sucessão, ele foi finalmente acusado de traição. Embora absolvido, ele fugiu para o exílio.
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