”A linha de sombra” conta a história de um capitão de primeira viagem lançado ao mar para realizar uma travessia, a da juventude à vida madura. Não há cenário melhor do que o mar para se deixar de ser jovem, daquela maneira descuidada e ardente, nas palavras do autor, e tornar-se adulto, mais autoconsciente e pungente. O mar força a ação, querendo ou não, deve-se agir. Lidar com o vento, com a tripulação e com a própria consciência – inquiridora recorrente quando se está no meio de um oceano – são ”momentos de precipitação” oportunos nesse caminho do qual se pode afastar-se, mas não escapar.
Dele não fugiu um rapaz polonês, que aos 21 anos já perdera os pais, tentara o suicídio e se aventurara em navios mercantes. Essa não é descrição de mais um personagem, mas sim do próprio autor. Conrad esteve nos lugares que descreve tão bem; conheceu figuras enigmáticas, como o capitão Gilles, paranoicas, como Mr. Burns e prestimosas, como Gambril. E, como muitos de seus heróis, rearrumou a memória e narrou o que viu, ouviu e viveu.
Aqui não é o lugar para se ocupar de uma discussão que teóricos da literatura ainda não esgotaram em ”orelhas” e livros inteiros através dos anos. Quando o assunto é ficção, dissecar as relações entre a biografia de quem escreve e o que é escrito não é tarefa simples. Mas neste caso, conhecendo a vida do moço Jósef Teodor Konrad Korzeniovski, pode-se facilmente enxergá-la na caneta do experimentado Joseph Conrad.
A respeito de “A linha de sombra”, com 63 anos de idade, em 1920, ele mesmo disse na nota que abre a trama: “(…) é experiência pessoal vista em perspectiva com o olho da mente e colorida pela emoção que alguém não pode evitar de sentir pelos acontecimentos de sua vida dos quais não tem razão alguma para envergonhar-se”.
Sobre o autor
Józef Teodor Konrad Korzeniowski nasceu em 1857, em Berditchev, Polônia (hoje Ucrânia). Exilado com a família na Rússia, teve o primeiro contato com a língua inglesa através do pai, tradutor de Shakespeare, e outros autores de renome. Após abandonar sua carreira na Marinha, publicou o primeiro livro, A loucura do Almayer. A esse se seguiram doze obras de caráter realista e romântico e 28 narrativas breves. Entre as mais importantes estão Lord Jim (1900), O coração das trevas (1902), Nostromo (1904), entre outras. Joseph Conrad morreu em 1924, na Inglaterra.
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