Dorothy Sayers, autora britânica de contos de detetive e especialista em medievalismo, brinda-nos com a transcrição de uma palestra sobre a educação medieval, por ela proferida em 1947, na Universidade de Oxford. Após uma crítica à escassez de bons escritores e bons textos na sua época, que saibam conduzir um debate, livre de falácias lógicas, erros gramaticais, estilo e beleza, ela aborda a parte das artes liberais, denominada “Trivium”. Longe de serem conteúdos, como no caso do Quadrivium, tais disciplinas são como “ferramentas” universais do estudo, que facilitam a aprendizagem e a tornam mais prazerosa. Embora elas tenham se perdido ao longo da história, elas têm tudo para serem resgatadas e adaptadas ao contexto atual. A autora encerra com uma chamada para o retorno à “velha disciplina” que se tornou tão rara nas escolas, cada vez mais dominadas pelos conteúdos, e o desenvolvimento das mais variadas “competências” e “habilidades.”
“Vivemos por aí soltando frases sobre a importância da educação — soltando frases e, quando muito, uma graninha ou outra; adiamos a idade de saída da escola, planejamos a construção de instalações maiores, em melhores condições; os professores se acabam feito escravos, com toda a diligência do mundo, por horas e horas de trabalho extra, até que a responsabilidade se torna um fardo insuportável, um pesadelo; e mesmo assim, creio eu, todo esse esforço é jogado no lixo, porque nós perdemos as ferramentas da aprendizagem; e, na ausência delas, só o que podemos fabricar é uma versão estragada e em frangalhos daquilo que um dia foi a educação.”
— Dorothy Sayers
“O diagnóstico de Dorothy Sayers é demolidor — e, como é evidente, aplica-se de modo preciso à situação da educação no Brasil: repetimos frases sobre a importância da educação, gastamos dinheiro, sobrecarregamos os professores, sem percebermos que deixamos de lado o mais importante: o ensino das ferramentas de aprendizagem. Aquilo a que chamamos ‘educação’ não passa de escolarização — uma educação imperfeita, e muitas vezes uma verdadeira deseducação.”
— Gustavo Bertoche, na introdução
Sobre o autor
Dorothy Leigh Sayers (1893–1957) ficou famosa por seus romances e contos com histórias de detetive, especialmente os do personagem Lord Peter Wimsey, ambientados na Londres do entreguerras. A estudiosa de Oxford foi também poetisa, editora, profícua dramaturga — como em The Man born to be King — e autora de livros religiosos, como The Mind of the Maker. Ela foi bolsista no Somerville College, uma das duas únicas faculdades femininas à época, onde estudou letras e literatura medieval. Formou-se em 1915, e esteve entre as primeiras mulheres a receberem titulação acadêmica, em 1920. Amiga de C. S. Lewis, bem como de outros membros do grupo The Inklings, participava com ele de reuniões do Socratic Club. Sayers também ficou célebre por seus trabalhos de tradução: a Canção de Rolando, do francês clássico, e a Divina Comédia de Dante, mas a morte inesperada a impediu de terminar o terceiro volume, do Paraíso. Faleceu em Witham, aos 64 anos.
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