O socialismo soviético instaurou campos de trabalhos forçados, os chamados Gulags, com motivações e características muito distintas de outros regimes autoritários e que ainda são pouco estudados. Os documentos históricos mais importantes são narrativas de quem esteve lá, que foram registrados em momentos de fuga após a libertação ou escritos durante o cárcere, e transmitem todo o clima daquele momento.
A vida de Tchernavin — um simples engenheiro sem ativismo político adversário — é revirada de uma hora para outra. A narrativa da chegada de oficiais a sua casa ao envio para um Gulag, sem provas de crimes, parece obra de ficção. Seu relato nos permite conhecer as histórias em primeira pessoa, ouvir o testemunho de quem vivenciou o terror e vislumbrar, ao lado das vítimas, a miséria humanitária e espiritual a que o socialismo as condenou. E só assim é possível compreender as estratégias de sobrevivência, as técnicas para manutenção da sanidade, os resquícios de solidariedade e senso de humor daqueles que se mantinham humanos em meio ao inferno da utopia.
Vladimir V. Tchernavin apresenta-nos essa realidade com maestria. A sua escrita corre como um filme: com aventura, suspense e análises de excepcional clareza, como numa mistura de documentário e thriller em que logo nos vemos ao lado do protagonista, sofrendo com ele e torcendo pelo sucesso de seus planos de fuga.
Sobre o autor
Foi um dos primeiros prisioneiros do sistema Gulag Soviético que conseguiu fugir para o exterior. Ele era um especialista em pesca que morava em Murmansk, quando o governo exigiu um aumento expressivo da produção de pescados para atender à demanda da população. Sem alcançar o número, foi acusado de boicotar o plano soviético e enviado para dois Gulags. Planejou meticulosamente sua fuga com a família num dia em que a esposa, Tatiana, e o filho, Andrei, viessem para uma visita no campo de pesca em que estava confinado. A família saiu para um piquenique e escapou em um barco que ele havia preparado semanas antes. Cada membro da família carregava uma mochila com mantimentos, e acampavam onde encontrassem abrigo. Após dias de caminhada, eles chegaram à Finlândia e imigraram para a Inglaterra.
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