Uma história desagradável narra como o alto funcionário Ivan Ilitch Pralínski, após algumas taças de champanhe, decide coroar seu recém-desperto amor pela humanidade com um gesto magnânimo e paternal: entrar de penetra na festa de casamento de Pseldonímov, um de seus mais baixos subordinados, e conquistar a todos ali “de forma irresistível”, fazendo “renascer neles toda a nobreza”.
Publicada em 1862 na revista O Tempo, esta obra-prima da narrativa curta, contemporânea a Humilhados e ofendidos (1861) e Recordações da casa dos mortos (1862), faz parte da produção de um Dostoiévski recém-saído da prisão e que marca sua presença no principal debate da época – o conjunto de reformas que trouxe a libertação dos servos, e o clima de ingênuo otimismo que então se espalhava por parte da sociedade.
A tradução de Priscila Marques, a primeira realizada diretamente do russo no Brasil, reconstrói em nossa língua as nuances de tom, o vocabulário às soltas e a trama de referências do texto original. Quanto a isso, é especialmente elucidativo o ensaio de Aleksei Riémizov, incluído nesta edição, que revela ainda os fatores que tornam esta novela o primeiro elo da corrente que conduz aos grandes romances Crime e castigo, O idiota e Os irmãos Karamazov.
Sobre o autor
Fiódor Mikháilovitch Dostoiévski nasceu em Moscou em 1821, e estreou na literatura com o romance Gente pobre, em 1846, ao qual se seguiram O duplo (1846) e Noites brancas (1847), entre outros. Após ser preso e condenado à morte pelo regime tsarista em 1849, teve sua pena comutada para quatro anos de trabalhos forçados na Sibéria, experiência retratada em Escritos da casa morta, livro que começou a ser publicado em 1860, um ano antes de Humilhados e ofendidos. Após esse período, escreve Memórias do subsolo (1864), Um jogador (1867), O eterno marido (1870) e uma sequência de grandes romances, Crime e castigo (1866), O idiota (1869), Os demônios (1872) e O adolescente (1875), culminando com a publicação de Os irmãos Karamázov em 1880. De 1873 até o ano de sua morte publicou ainda o Diário de um escritor, reunindo peças jornalísticas e de ficção. Reconhecido como um dos maiores autores de todos os tempos, Dostoiévski morreu em São Petersburgo, em 1881.
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