No primeiros dias do verão de 1828, ocorreu um fato estranho e inquietante em Nuremberg, destinado a despertar a curiosidade de todos os habitantes da cidade: apareceu um rapaz de aproximadamente dezessete anos, vestido com roupas camponesas, que balbuciava palavras incompreensíveis e andava como uma criança que ensaiasse os primeiros passos. Desorientado e surpreso, olhava ao redor como se visse o mundo pela primeira vez, com os olhos semicerrados para se proteger da luz, repetindo uma única frase: “Queria tornar-me um cavaleiro como meu pai”. Sua origem permanecia misteriosa.
Com sua notável capacidade de sondar a alma humana, Jakob Wassermann narra a comovente e aterradora história de Kaspar Hauser, o enigma vivo destinado a se tornar tão popular que foi chamado de “filho da Europa”. Na tradução de Adonias Filho, e acompanhada de uma introdução do autor, o leitor terá contato com a obra-prima que representa o mais profundo esforço já feito para penetrar no mistério que envolve Kaspar Hauser.
Sobre o autor
Jakob Wassermann (1873–1934) foi um romancista e contista judeu alemão, considerado um dos maiores escritores da literatura alemã do século XX. Nascido em Fürth, cidade industrial próxima de Nuremberg, filho de um modesto comerciante, abandonou cedo a vida comercial imposta pelos pais para se tornar escritor. Em Munique, travou amizade com Thomas Mann, Rainer Maria Rilke e Hugo von Hofmannsthal, e publicou suas primeiras obras: Melusine (1896), Os judeus de Zirndorf (1897) e A história da jovem Renata Fuchs (1900), O Moloc (1902) e Alexandre em Babilônia (1904). Sua prosa psicológica e o estilo narrativo realístico, fortemente influenciado por Dostoiévski, alçou-o ao posto de um dos escritores mais lidos e traduzidos dos anos 1920– 30, com as obras Kaspar Hauser (1908), O espelho de ouro (1911), O homem dos gansos (1915), Christian Wahnschaffe (1919), sua autobiografia Meu caminho como alemão e judeu (1921), para culminar com sua obra-prima: a trilogia composta por O processo Maurizius (1928), Etzel Andergast (1931) e A terceira existência de Joseph Kerkhoven (1934). Com a ascensão do nazismo, teve seus livros banidos na Alemanha e, apesar dos agravos financeiros e do exílio na Áustria, não deixou de cumprir com a sua vocação de escritor, granjeando a alcunha de “Dostoiévski do século XX”.
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