Redigida entre julho e dezembro de 1849, quando o autor se encontrava no cárcere da Fortaleza de Pedro e Paulo, em Petersburgo, à espera da sentença que o desterraria para a Sibéria, a novela Um pequeno herói nada revela das terríveis condições em que foi escrita. Nessas páginas, em contraste com a experiência sinistra da prisão, Dostoiévski criou uma obra luminosa e delicada, que revela sua capacidade sem paralelos de entrar na alma de um personagem e lançar luz sobre os processos que se passam justo aquém da consciência.
O cenário é uma propriedade no campo, durante uma temporada de verão, onde se encenam os jogos de entretenimento da rica sociedade russa. Nesse ambiente festivo, cercado por uma natureza exuberante, um garoto de onze anos vive sua primeira experiência amorosa significativa, mesclada à percepção difusa de sua sexualidade e da dos adultos.
Com mão de mestre, e muito antes de Freud, Dostoiévski conduz o leitor pelos meandros da alma infantil até seu ponto mais sensível, ali onde se inscrevem – decisivas como num rito de passagem – a descoberta da própria dignidade, impulsionada por eros, e a primeira ofensa, infligida ao sentimento pelo jogo das máscaras sociais. Uma obra-prima a ser redescoberta na primorosa tradução de Fátima Bianchi, acompanhada pelas brilhantes xilogravuras de Marcelo Grassmann.
Sobre o autor
Fiódor Mikháilovitch Dostoiévski nasceu em Moscou em 1821, e estreou na literatura com o romance Gente pobre, em 1846, ao qual se seguiram O duplo (1846) e Noites brancas (1847), entre outros. Após ser preso e condenado à morte pelo regime tsarista em 1849, teve sua pena comutada para quatro anos de trabalhos forçados na Sibéria, experiência retratada em Escritos da casa morta, livro que começou a ser publicado em 1860, um ano antes de Humilhados e ofendidos. Após esse período, escreve Memórias do subsolo (1864), Um jogador (1867), O eterno marido (1870) e uma sequência de grandes romances, Crime e castigo (1866), O idiota (1869), Os demônios (1872) e O adolescente (1875), culminando com a publicação de Os irmãos Karamázov em 1880. De 1873 até o ano de sua morte publicou ainda o Diário de um escritor, reunindo peças jornalísticas e de ficção. Reconhecido como um dos maiores autores de todos os tempos, Dostoiévski morreu em São Petersburgo, em 1881.
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