“Pode parecer que, sobre Blaise Pascal, já foi dito tudo o que havia para dizer. Mas Pascal é um daqueles escritores que serão, e devem ser, estudados novamente por homens de todas as gerações. Não é ele que muda, mas somos nós que mudamos. […] Dada sua combinação única e equilíbrio de qualidades, não conheço nenhum escritor religioso mais pertinente ao nosso tempo” — T. S. Elliot
Nos poucos anos em que frequentou as reuniões sociais, Pascal — que era, segundo Elliot, “um homem do mundo entre os ascetas e um asceta entre os homens do mundo” — constatou que, na alma dos convivas, libertinos e ateus, o interesse por questões científicas e literárias estava aliado a uma total impenetrabilidade para o sentimento religioso. Decidiu dedicar à sua conversão, dali em diante, todo o labor de sua pena, e propôs-se a elaborar uma apologia do cristianismo, não demonstrando as verdades da religião como se faz em geometria, de maneira abstrata, mas instalando-se no ponto de vista do homem natural, que pensa ser autossuficiente. Esta é a origem dos “Pensamentos”, que não puderam afinal ser organizados numa obra perfeita e acabada, e que são, nas palavras de Sainte-Beuve, “uma torre cujas pedras foram colocadas umas sobre as outras, mas não cimentadas”. Por isso, os muitos papéis que deixou têm uma história própria, de inúmeras e diferentes edições, que tentam interpretar como teria o gênio ordenado essas anotações de ideias ainda imaturas, pois, de fato, como diz Émile Boutroux, vemos os seus pensamentos nascendo diante de nós, e surpreendemos Pascal conversando consigo mesmo nas profundezas de sua consciência. Esta nova tradução brasileira traz, além de uma apresentação histórica e biográfica, os fragmentos numerados e as notas explicativas da clássica edição do filósofo Léon Brunschvicg — considerada definitiva e graças à qual acreditamos ter acessado, enfim, “todo Pascal e somente Pascal”.
Sobre o autor
Um dos principais filósofos franceses da modernidade, Blaise Pascal nasceu na pequena cidade de Clermont-Ferrand, em 1623, e morreu em Paris, em 1662. Desde muito cedo, revelou grande aptidão para a matemática, como se vê pela invenção e produção da máquina de calcular e pelos escritos sobre as cônicas, o triângulo aritmético e a cicloide. No campo das ciências, seguindo o caminho aberto por Torricelli, dedicou-se às pesquisas sobre o vácuo e o peso da massa de ar, além de ter elaborado uma reflexão importante sobre a noção de método. Ainda bastante jovem, em 1646, Pascal tornou-se adepto do jansenismo, mas somente depois de uma experiência religiosa marcante, ocorrida na noite de 23 de novembro de 1654, sua adesão ao cristianismo ganhou a intensidade e a centralidade que o levariam a compor as “Cartas provinciais” e os fragmentos que, coligidos postumamente, haveriam de formar os “Pensamentos”.
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