“Toda a lei da existência humana consiste exclusivamente em o homem sempre se ter podido inclinar perante o incomensuravelmente grande. Se as pessoas forem privadas do incomensuravelmente grande, não quererão viver e morrerão em desespero. O incomensurável, o infinito, é tão necessário para o homem como o minúsculo planeta em que habita…“
Inspirado pelo brutal assassinato de um estudante cometido por um grupo de niilistas que chocou toda a Rússia em 1869, Dostoiévski escreveu um romance sombrio e profético ao mesmo tempo, no qual pinta todo o cenário dos males morais e espirituais, dos “demônios” que afligiam a cultura russa do século XIX: o niilismo revolucionário de uma sociedade aparentemente culta e liberal, o socialismo ateu, o problema religioso, o poder autocrático e as suas ramificações.
O alcance de seu quadro e sua capacidade incomparável de dar vida e encarnar em personagens as mais profundas e complexas questões morais e filosóficas e ideias sociais, fazem de Os demônios talvez a criação mais deslumbrante e atual de Dostoiévski. Na tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra, acompanhada de notas e uma introdução do filósofo russo Nikolai Berdiaev, o leitor terá contato com o retrato espantosamente insuperável dos atoleiros morais que continuaram a perseguir o ideal revolucionário desde a época de Dostoiévski até os nossos dias.
Sobre o autor
Fiódor Mikháilovitch Dostoiévski nasceu em Moscou em 1821, e estreou na literatura com o romance Gente pobre, em 1846, ao qual se seguiram O duplo (1846) e Noites brancas (1847), entre outros. Após ser preso e condenado à morte pelo regime tsarista em 1849, teve sua pena comutada para quatro anos de trabalhos forçados na Sibéria, experiência retratada em Escritos da casa morta, livro que começou a ser publicado em 1860, um ano antes de Humilhados e ofendidos. Após esse período, escreve Memórias do subsolo (1864), Um jogador (1867), O eterno marido (1870) e uma sequência de grandes romances, Crime e castigo (1866), O idiota (1869), Os demônios (1872) e O adolescente (1875), culminando com a publicação de Os irmãos Karamázov em 1880. De 1873 até o ano de sua morte publicou ainda o Diário de um escritor, reunindo peças jornalísticas e de ficção. Reconhecido como um dos maiores autores de todos os tempos, Dostoiévski morreu em São Petersburgo, em 1881.
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