Na luta contra a mentira, a arte ganhou sempre, e sempre ganhará, abertamente, irrefutavelmente, no mundo inteiro.
— Soljenítsin
Chegamos à era da pós-literatura. O tempo em que a visão literária do mundo tinha seu lugar parece definitivamente encerrado. Olhem ao redor: arte, literatura, cinema, festivais, museus, tudo hoje em dia é criado apenas em prol de causas “justas”. Nada mais é avaliado por sua qualidade, mas por ser “espaços inclusivos de democratização”, por “contribuir para a dignidade humana e a justiça social, a igualdade mundial e o bem-estar do planeta”. Sob a constante vigilância do politicamente correto, capaz de arruinar reputações e de interromper carreiras, autores não têm mais a liberdade de criar: a propaganda invade a arte. E esse patrulhamento não é obra de um Estado totalitário, e sim determinado e praticado por aqueles que definem a arte como o lugar “em que se elaboram as formas que permitem lutar contra o racismo e as desigualdades”. Esses paladinos sociais limpam nossa civilização de tudo que lhe conferia o valor e instalam o império da feiura, do mesquinho.
Em “A pós-literatura”, o filósofo Alain Finkielkraut analisa, com o auxílio de seus autores favoritos, como Milan Kundera e Philip Roth, a forma pela qual o poder outrora formativo dos grandes autores e clássicos ocidentais se está dissolvendo sob a sombra do politicamente correto. Nessa excursão pela “cultura do cancelamento”, desde impacto o #MeToo ao movimento Black Lives Matter, do neofeminismo simplificador às mais alardeadas pautas identitárias do esquerdismo cultural, o leitor verá que, na atual luta contra a mentira, a verdadeira arte está perdendo o jogo.
Sobre o autor
Alain Finkielkraut é um renomado filósofo e ensaísta francês de origem polonesa. Professor emérito da École Polytechnique de Paris, lecionou na Universidade Americana de Berkeley na década de 1970 e, desde 2014, é membro da Académie Française. Além de A pós-literatura, publicou La Défaite de la pensée (1987), L’Humanité perdue (1996), Un coeur intelligent (2009), L’Identité malheureuse (2013), La Seule Exactitude (2015), En terrain miné (2017; com Élisabeth de Fontenay) e À la première personne (2019).
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