Quando um historiador procura informações sobre uma civilização antiga, ele precisa investigar suas ruínas. Theodore Dalrymple se tornou um dos críticos sociais mais conhecidos da atualidade por considerar que alguns valores basilares do Ocidente estão sendo paulatinamente arruinados. Seus mais de dez livros publicados no Brasil dão suporte a esse diagnóstico com incontáveis evidências. Em Lixo, o autor reitera a sua análise refletindo, literalmente, sobre os detritos de nossa cultura. Quase como um arqueólogo-psiquiatra, o Dr. Dalrymple chama atenção para o tipo e a quantidade da sujeira que vem sendo deixada nos espaços públicos. Embalagens de alimentos e bebidas industrializados são os resíduos de uma prática recentemente desenvolvida: a de comer na rua, enquanto andamos.
O autor vasculha os diversos e deploráveis traços de comportamento que estão por trás de todo esse entulho. Não mais fazemos das refeições momentos de sociabilidade, mas as reduzimos à satisfação de desejos, como se fôssemos abutres. Deixamos de controlar nossas vontades pelos critérios da vida comunitária, renunciando tanto à capacidade de tomar decisões como ao refinamento do gosto. No ápice dessa postura, há a atitude indolente de se desfazer da sobra do que foi consumido onde quer que se esteja – pois, afinal, a sujeira será problema de outras pessoas. A preguiça, o sentimentalismo e a falta de senso de responsabilidade individual são detectáveis nesse hábito aparentemente fortuito. Enriquecida por digressões literárias e filosóficas e pelas memórias de atendimentos na prisão, essa é a hipótese chocante do novo livro em português do psiquiatra britânico Theodore Dalrymple.
Sobre o autor
Anthony Daniels, o psiquiatra britânico que escreve com os pseudônimos Theodore Dalrymple, Edward Theberton e Thursday Msigwa, atuou profissionalmente em periferia de grandes cidades, prisões e países como o Zimbábue e a Tanzânia, além de outros do Leste Europeu e América Latina. A partir de sua experiência como médico e de sua clara inclinação conservadora, desponta como um crítico cultural e social implacável, avesso à celebrada noção de “Estado de bem-estar social”. É membro sênior do Manhattan Institute e colabora com veículos como The Times, The Salisbury Review, National Review, The Daily Telegraph, The Observer e The Spectator. Recebeu o Prêmio da Liberdade, em 2011, na Holanda.
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