Creio que se a palavra “educação” tem algum sentido, é exatamente este: a demonstração da realidade com suas virtualidades, a participação nela, a pluralidade de perspectivas, que inverte a tendência habitual à simplificação e ao esquematismo, ou ao trato irrefletido e utilitário com as coisas. Estou ficando cada vez mais convencido de que a educação sentimental é um dos núcleos ao redor dos quais a vida se organiza, precisamente em suas camadas mais profundas.
Poder-se-ia pensar que essa insistência na espontaneidade, essa preferência por ela, exclui a educação ou a relega a um lugar secundário. Acredito, ao contrário, que ela a exige: é preciso educar a espontaneidade, para que não seja pobre, pouco livre e limitada pela herança não só biológica, mas sobretudo social. Compreendo a educação como o cultivo e aperfeiçoamento da espontaneidade. É evidente o enorme alcance que a ficção tem nesse contexto: poesia, teatro, narrativas, cinema.
Neste livro seguimos os passos da educação sentimental — a forma mais íntima e profunda de civilização — em grande parte da história. Isso era necessário para que pudéssemos tomar posse de nós mesmos, herdeiros de tudo; para não sermos “antepassados” de nossa própria realidade esquecida.
Sobre o autor
Julián Marías Aguilera (Valladolid, 17 de junho de 1914 — Madrid, 15 de dezembro de 2005) foi um filósofo espanhol, considerado o principal discípulo de José Ortega y Gasset. Foi diretor do “Semanário de Estudos de Humanidades”, membro da Real Academia Espanhola e da Real Academia de Belas-Artes e doutor honoris causa em Teologia pela Universidade Pontifícia de Salamanca.
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