Estamos tão habituados a ouvir falar de “progresso do conhecimento”, que não nos damos conta de que essa expressão não é um conceito descritivo, a tradução verbal de uma realidade, e sim apenas uma figura de linguagem, uma metonímia, por trás da qual não há senão uma impressão confusa e até mesmo enganosa. “Conhecimento”, a rigor, só existe na mente de quem conhece, no instante e no grau em que conhece. Mas em que medida o homem que está desorientado no meio de uma massa de informações tem real “conhecimento” dela? O “progresso do conhecimento” implica necessariamente o concomitante aumento da ignorância. E, quando a ignorância e o conhecimento se mesclam de maneira inseparável, é a ignorância que predomina, pois é ela que determina a forma do conjunto. Não é preciso dizer que, levada ao seu extremo, a impossibilidade de discernir conhecimento e ignorância põe em risco não somente a segurança da civilização, mas a própria integridade da inteligência humana.
Sobre o autor
Olavo de Carvalho, nascido em Campinas-SP, em 29 de abril de 1947, tem sido saudado pela crítica como um dos mais originais e audaciosos pensadores brasileiros. A tônica de sua obra é a defesa da interioridade humana contra a tirania da autoridade coletiva, sobretudo quando escorada numa ideologia “científica”. Para Olavo de Carvalho, existe um vínculo indissolúvel entre a objetividade do conhecimento e a autonomia da consciência individual, vínculo este que se perde de vista quando o critério de validade do saber é reduzido a um formulário impessoal e uniforme para uso da classe acadêmica.
Comentários
Nenhum comentário ainda.