Bossuet vale uma igreja. Toda a sua obra é combate, fé, vigor de pensamento e de sentimento. Cada um dos sermões deste grande orador é um ato de apostolado, e as obras mais perfeitas que publicou não honram tanto a sua memória quanto esses rascunhos salvos como que por um milagre, nos quais podemos acompanhar o desenvolvimento do seu espírito, o progresso da sua eloqüência, além da paciência, da humildade e do ardor de seu incomparável zelo. “A verdade que especialmente vos proponho é que só é feliz quem não está sujeito ao erro, e que não se engana nunca. É uma segura e incontestável verdade. Não carece de demonstração, porque a vedes em toda a evidência. Mas, meus senhores, onde é que vós a vedes? Porventura nas minhas palavras? De maneira alguma, crede. Porque, assim como eu, designando-vos com o dedo um quadro ou um adorno da capela real, apenas dirijo a vossa vista, e não vos dou luz, nem vos posso inspirar o sentimento, assim eu vos falo neste púlpito. Falo-vos, advirto-vos, estimulo-vos a atenção. Mas há uma voz secreta da verdade que fala em mim, dentro de mim, e essa voz é a que vos fala também. Se ela não existisse, as minhas palavras cortariam o ar inutilmente e apenas aturdiriam os ouvidos. Assim, se, conforme a sábia organização do ministério eclesiástico, uns são pregadores e outros ouvintes, todos, segundo a ordem desta oculta inspiração da verdade, são ouvintes e são discípulos”.
Sobre o autor
Jacques Bossuet (1627 – 1704) foi bispo e teólogo francês, um dos teóricos do absolutismo. Segundo ele, os reis recebiam poderes divinos para governar. Jacques Bénigne Bossuet veio de uma família de magistrados e teve educação num colégio de jesuítas em Dijon, na França. Estudou teologia aos 15 anos no College de Navarre. Foi ordenado padre em 1625, quando terminou o seu doutorado. Famoso pelas suas pregações ao rei Luís XVI, foi designado para ser tutor do filho mais velho do rei Delfim. Foi nomeado conselheiro do rei depois de aprender o funcionamento da política junto à corte real. Foi designado bispo de Meaux e deixou a corte, mas continuou mantendo laços com o rei.
Embora fosse um religioso, Bossuet era um formulador de ideias favoráveis ao poder do rei, chegando a estabelecer em documento depois da assembleia do clero realizada entre os anos 1681 e 1682, em que o Papa só deveria ter poder em questões religiosas, devendo isentar-se do poder secular. Em seu livro “Política Tirada das Santas Escrituras”, de 1708, Bossuet defendia o direito divino, legitimador do governo da realeza. Nessa situação, qualquer revolta seria considerada um crime, embora deixasse claro que o rei deveria sempre evitar o abuso de poder. Defendia o jansenismo, doutrina que pregava a salvação como privilégio de pessoas escolhidas por Deus. Morreu em Paris no ano de 1704.
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