Verdadeiro marco da lírica ocidental, as Odes de Horácio reúnem, em quatro livros, 103 poemas escritos em latim no século I a.C. — obra monumental que viria a influenciar uma legião de autores na posteridade, de Petrarca a Fernando Pessoa, de Ronsard a Bertolt Brecht. Nessa constelação de versos, podemos vislumbrar as ideias e os costumes dos cidadãos que viviam no auge do Império Romano, durante a Pax Augusta, após a turbulenta época do assassinato de Júlio César e das guerras civis. Quinto Horácio Flaco (65-8 a.C.) era filho de um modesto comerciante do sul da Itália que enriqueceu com leilões públicos (como registra Suetônio na Vida de Horácio, texto do século II reproduzido neste volume). Apesar da origem humilde, o poeta tornou-se figura importante na sociedade romana, a ponto de recusar um convite de Augusto (o primeiro imperador de Roma) para se tornar seu secretário oficial, preferindo dedicar-se às letras, contando para isso com o apoio do seu grande amigo Mecenas, também protetor de Virgílio. Autor também de Sátiras, Epodos e Epístolas (entre elas a célebre Arte poética), além do Cântico Secular (criado para os Jogos Seculares de 17 a.C. e também incluído neste volume), Horácio resgatou em suas Odes, com graça e engenho, as variadas formas da poesia grega antiga (Alceu, Safo, Píndaro) e alexandrina (Calímaco), propondo uma filosofia de vida baseada tanto no estoicismo como no epicurismo, algo eternizado num dos versos mais famosos da história da literatura, o “Carpe diem” da ode I, 11. A presente edição, bilíngue, traz o conjunto completo das 103 odes de Horácio na inspirada tradução, fluente e musical, de Pedro Braga Falcão, que assina também a introdução e as notas explicativas a cada um dos poemas.
Sobre o autor
Horácio (Quinto Horácio Flaco) nasceu em 65 a.C. em Venúsia, na região da Apúlia, próximo à Lucânia, filho de um ex-escravo liberto. O pai enriqueceu e pôde enviar o filho para estudar nas melhores escolas da época, notadamente em Roma e Atenas. Em 44 Júlio César foi assassinado em uma conspiração liderada por Bruto e Cássio, e dois anos depois Horácio lutou contra Otaviano Augusto na batalha de Filipos, na Macedônia, ao lado das tropas de Bruto, que foram derrotadas. Voltando a Roma, Horácio foi perdoado, assumiu uma posição na burocracia imperial, conheceu Virgílio e passou a integrar o círculo de intelectuais patrocinado por Mecenas. Horácio publicou o livro I das Sátiras (Sermones) em 35 a.C., os Epodos e o livro II das Sátiras em 30, os livros I, II e III das Odes (Carmina) em 23, o livro I das Epístolas em 21, o Cântico Secular (Carmen Saeculare) em 17 (encomendado por Augusto e declamado nos Jogos Seculares), o livro II das Epístolas e o livro IV das Odes em 11 e a Epístola aos Pisões (conhecida como Arte poética) em 10 a.C. (as datas são aproximadas). Faleceu em Roma, em 8 a.C., e seu corpo foi sepultado ao lado do túmulo de Mecenas no monte Esquilino.
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