As “Bucólicas”, primeira grande obra de Públio Virgílio Marão, poeta maior do mundo latino, recriam o espaço idílico dos pastores sicilianos de Teócrito, poeta siracusano do século III a.C., mesclando a tranquilidade e a perfeição de uma Arcádia utópica com a crise do mundo romano convulsionado pelas guerras civis, mas prenhe de esperança nos novos tempos, em que a paz e a segurança de uma nova ordem serão estabelecidas. Escritos entre 42 e 37 a.C., os seus dez poemas estão repletos de alusões aos eventos dramáticos e sangrentos que marcaram a transição da República para o Império, anunciando uma nova Idade de Ouro, com a Pax Romana sob o cetro de Augusto. Também os amores descritos nas cenas idílicas apresentam algo de perturbador, por se tratarem, quase sempre, de paixões não correspondidas.
Obra seminal da cultura literária do Ocidente, as “Bucólicas” têm sido permanentemente lidas, imitadas e traduzidas desde a sua primeira publicação, há mais de dois milênios, inspirando artistas de todas as épocas e áreas. Nesta primorosa tradução de Raimundo Carvalho, os cantos dos pastores-poetas ressoam íntegros, emulados em novo tecido sonoro e rítmico, observando o contraste melódico entre a suavidade e o colorido das vogais da língua portuguesa falada no Brasil e o intrincado sistema das aliterações consonantais recriado do original latino.
Sobre o autor
Públio Virgílio Maro (em latim, Publius Vergilius Maro) nasceu nas vizinhanças de Mântua em 70 a.C., de família proprietária de terras. Estudou nas cidades de Cremona, Milão, Roma e, mais tarde, filosofia epicurista em Nápoles na escola de Sirão. Além de três epigramas reconhecidos como obra de juventude, o mantuano é autor das Bucólicas, que retoma os temas pastorais do poeta grego Teócrito (c. 310-250 a.C.); das Geórgicas, que celebra a agricultura e os trabalhos da terra, publicada em 29 a.C.; e da Eneida, “a gesta de Eneias”, de que teria lido excertos ao imperador Otaviano mesmo antes de concluí-la. No ano de 19 a.C., faltando apenas os retoques finais nesse grande poema, Virgílio parte para a Grécia com a intenção de conhecer de perto alguns dos cenários mencionados em sua obra, mas, com a saúde sempre precária, adoece e é levado de volta para Bríndisi, morrendo pouco depois de desembarcar.
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