“Os homens cuja função é defender os valores eternos e desinteressados, como a justiça e a razão, a quem denomino intelectuais, traíram essa função em proveito de interesses práticos. Nosso século terá sido propriamente o século da organização intelectual dos ódios políticos. Este será um de seus grandes títulos na história moral da humanidade.”
As advertências de Benda podiam, em 1927, ser tidas como pouco fundadas. Mas hoje elas nos parecem verdadeiramente proféticas. Julien Benda rejeitou todas as modas filosóficas de sua época e criticou a adesão dos intelectuais às paixões políticas (fossem elas de raça, de partido, de classe ou de nação), chamando esses intelectuais de traidores de suas verdadeiras funções. A traição dos intelectuais, que permanecerá um clássico, precisava ser publicado em um país que, há bastante tempo, só conhece um tipo de intelectual: o defensor dos interesses práticos de uma coletividade, adepto dos modismos e das paixões políticas, sem qualquer compromisso com os valores superiores da verdade, da razão ou da justiça.
Sobre o autor
Julien Benda (Paris, 26 de Dezembro de 1867 – ibid., 7 de Junho de 1956) foi um crítico, escritor e filósofo francês, celebrizado pela sua obra La Trahison des clercs (A Traição dos Clérigos ou, em alternativa, A Traição dos Intelectuais), de 1927. Originário de rica família judaica, Julien Benda ficou à frente da empresa de exportação familiar até à falência desta em 1913, devendo a partir de então sobreviver da sua escrita. Na filosofia, foi um crítico implacável das ideias de Bergson em várias obras, a primeira das quais Le Bergsonisme ou Une philosophie de la mobilité (1912), baseando-se nos argumentos de Descartes, Espinosa e do classicismo francês. Politicamente, era muito difícil de rotular. Chamaram-lhe “reaccionário de esquerda”, se isso significava alguma coisa. Foi dreyfusard e crítico acerado da autoritária Action Française, do fascismo e do nazismo. Conservador no plano estético e considerado “anti-moderno”, Benda foi um teórico da independência política e da neutralidade partidária dos intelectuais.
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